Eu sabia desde antes de eu chegar aqui que os europeus em geral tem uma relação diferente com as origens das pessoas. Mais do que nascer em um lugar, você carrega a cultura do lugar onde seus genes se originaram. É assim que eles te classificam: se você tem ancestrais chineses, não importa onde você tenha nascido, você é acima de tudo, chinês. Talvez essa coisa cultural realmente se mantenha na Europa. Mas a gente sabe que no novo mundo, nas Américas, a coisa é diferente. Nossos ancestrais chegaram no novo mundo, alguns até achavam que não seria por muito tempo, mas foram englobados pela nova casa e os descendentes se fizeram americanos.
Então sempre que alguém me pergunta da onde eu sou, respondo que sou sim brasileira. E quando fazem uma cara de espanto já falo logo que sou nascida e criada no Brasil e não poderia ser outra coisa. Claro que me perguntam dos meus ancestrais, e ai explico que meus avós são imigrantes, mas que fizeram a vida e criaram as demais gerações misturados nas duas culturas. Mas que me sinto brasileira como qualquer outra pessoa nascida e criada no país. E falo: brasileiro não tem cara, a gente parece com o mundo inteiro.
Eu não acredito que alguém crescido se aculture a ponto de se transformar em outra nacionalidade. Você pode adotar hábitos diferentes, mudar como vê o mundo, mas lá no fundo, você é aquela cultura que te fez.
Claro que a gente se desliga um pouco do que acontece “lá em casa”, mas aquilo que verdadeiramente nos é caro, sempre vai chamar nossa atenção.
Eu nunca vim pra cá com a intenção de ficar ilegal ou arranjar um casamento/passaporte; inclusive tenho passagem de volta comprada já e com certeza, pelo menos por algum tempo, eu sei que vou voltar pro Brasil. Mas é um pouco desesperador acompanhar as notícias políticas do meu país. Eu tenho muita esperança de que as coisas vão melhorar, mas as vezes eu perco toda a fé na humanidade quando vejo a maneira como aqueles que tentam fazer a diferença de verdade são tratados. É tão triste ver que o dinheiro fala mais alto em todas as instâncias e que o povo é prejudicado por grandes corporações. Mas ao mesmo tempo, é bom ver que essa geração que sucederá a minha parece que realmente quer mudar isso tudo, que quer fazer um mundo melhor de verdade e põe a mão na massa pra isso.
Todo lugar tem seus prós e contras e não achem que estar num “país de primeiro mundo” te livra de problemas. Os problemas são diferentes, o ser humano é um ser muito estranho, mas não existe nada como o calor do seu lar. O lar é onde está seu coração, acredite, e enquanto ele pulsar, é pra lá que a gente volta sim.